Um dos motivos que me trouxe à Puglia
foi uma conversa com Vittória, uma amiga de Padua, que me disse que
aqui era a terra do figo e que agosto era o mês da safra. Isso
ativou alguma coisa dentro de mim. Não sei explicar bem e pode
parecer que sou viciada em figo, mas foi como um carinho, uma
lembrança boa que me guiava, e eu vim. Eu não sou viciada em figo,
minha mãe é. Eu gosto dele fresco, gosto das sementinhas estourando
na boca misturadas à aquelas cobrinhas minúsculas, tenho certeza
que Ferran Adria
inspirou muitas de suas experiências gastronômicas no figo. Minha
mãe gosta de tudo de figo. Do tradicional doce de figo mineiro ao
rami. Vê-la feliz é chegar em casa com um pacote de figo seco.
Chega a época do figo verde, e lá tá ela com um doce que
encomendou da amiga que trabalha na cantina da escola ou comprou da
senhorinha da feira de Entre Rios...Quando fui à Colômbia trouxe de
presente biscoito, tipo goiabinha, só que de figo, só para ela.
Minha paixão com figo é coisa recente, a dela não, me lembro ainda
criança que não entendia bem sua alegria ao encontrar uma lata de
figo rami no mercado. Isso era coisa rara naquela época, mais que
rara era um produto de festa, especial. Ela sempre soube o que era
bom, eu demorei um pouco...
Aqui encontrei uma variedade de figos
impressionante, pequeninnho verde, grande verde com a polpa branca,
com a polpa vermelha, roxo com a polpa mais vermelha ainda, é um
desfile de figo. E tem figueira como tem goiabeira em Entre Rios, ou
cajueiro em Aracaju. Assim, na rua, pra todo lado, todo terreno
baldio é uma plantação. Os carros param na beira da estrada para
os motoristas colherem figo. Eu provo todos até ter meu preferido.
Nas idas e vindas procurando Rosalinda eu que me perdia debaixo de
uma figueira nova, que eu ainda não tinha experimentado.
Experimentei também pela primeira vez
o figo da india. A primeira experiência foi colhê-los e confesso
não foi muito boa, ele é cheio de espinhos pequenininhos, um vento
é suficiente para ter espinho nas suas costas, pé, braços. Sem
falar nas mãos, mesmo colhido com uma sacola plástica de proteção.
A segunda experiência foi bem melhor, comê-los! Uma fruta muito
delicada de sabor. Gostei da textura e do frescor e das sementinhas,
maiores que a do figo normal, mas gostosas também. A terceira
experiência foi uma lenda que contaram enquanto comíamos as figos
da india na pizzada da minha despedida no Sarruni. Contam que estes
figos eram servidos no café da manhã tradicionalmente e que isto
tinha começado nos locais de videira, na época da colheita. Era uma
forma de fazer com que as pessoas que colhiam não comecessem a uva
pois existia uma lenda que dizia que comer uva e figo da india era
uma bomba para o intestino, uma semana sem ir ao banheiro, no mínimo
As pessoas tinham medo, mais ou menos como nós com a manga com
leite. Gosto dessas histórias populares, meio lenda meio verdade. Eu
por via das dúvidas não cheguei perto das uvas essa noite.
Mãe, não posso levar os figos mas fiz as fotos de presente!
Que texto delicioso de ler.
ResponderExcluiruhuhuhu
ResponderExcluirque bom que vc achou isso!
Que delícia essa gula em marcha ;-)
ResponderExcluirSonia, tenho até vergonha tem horas de tanta gula. É gula do mundo!
ResponderExcluirTT, minha boca encheu de água.... amo figo assim madurinho...
ResponderExcluirPati querida, tudo de bom figo né? eu tô amando conhecer outros...outro dia fizemos uma massa tipo bolinho de chuva com um figo pequenininho dentro e fritamos...coisa de louco!
ResponderExcluirbeijo