Hoje não havia hóspedes para o
jantar. Foi bom para conversar com calma, saborear tranquilamente cada prato
servido, só a família e eu. Falo sem parar da minha completa admiração pela
ricota que eles fazem. E eles começam a me contar mais da história deste
queijo, e fiquei boquiaberta, da mesma forma quando provei a primeira ricota
que o Roberto me ofereceu.
Estou completamente viciada.
Raspo os pratos onde elas são servidas enquanto levo a louça para a cozinha.
Fico de olho na porção servida a algum hóspede torcendo para que ele não coma
tudo. Só falta sonhar a noite, porque de dia já faço.
Um pouco de história para
quem, como eu, pensava que ricota era aquele famoso queijo das dietas. Não, a
ricota merece seu lugar de honra junto aos queijos de primeira linha. Aquela
outra é algo completamente diferente, a prima anoréxica da ricota de verdade.
Primeira lição: a ricota é
italiana. Tem este nome porque é levada ao fogo duas vezes (ri – repetição,
cota – cozida). Da primeira se faz o queijo e sobra o soro, que depois volta ao
fogo com um pouco de leite e sal para que surja, como num passe de mágica,
aqueles gominhos macios em cima na panela. Depois é só recolher esta massa que
se forma, colocar numa forma de queijo e assim que o excesso de água sair,
comer.
Sim, ela é feita para ser
comida fresca, se possível ainda morna. É desse jeito que ela conserva o sabor
e a textura ideais. O sabor é levemente doce, com um pouco de sal, suave,
perfeito com salgado e como recheio de sobremesas, muito comum nos doces
sicilianos. A textura é cremosa, um cremoso diferente porque é muito leve. Não
é pesado nem denso, quase derrete na boca.
Enquanto aprendo, vou comendo
a ricota do jantar. Mas esta está um pouco diferente das que comi até aqui. A
Nonna me explica que é porque já está velha, foi feita antes de ontem, é o
limite para consumi-la. Ricota com mais de dois dias não presta, não é ricota
italiana.
Exijo retratamento púplico. Discursos
em cadeia nacional. Conferências na ONU. Devolvam à ricota o que é dela. Sua
honra foi ferida e ninguém, ao menos no Brasil, a tem defendido.
Por falar em vícios, preciso
confessar outro: leite de amêndoas.
Sempre gostei dos leites de
grãos e castanhas. Não tenho problema com essa coisa de chamar de leite, não
faço nenhuma comparação com leite de verdade. Nem me incomodo com o nome
emprestado. Digo isso porque acho que muita gente não consegue apreciar estes
leites pela comparação, esperando algo muito parecido com o leite de verdade ou
um sentimento de exclusão, como se tivesse que escolher entre o leite de vaca
ou o de cereais. Cada coisa no seu lugar e tem lugar pra todos na minha barriga.
O leite de amêndoas, no
momento, está ocupando um bom espaço no meu paladar e olfato. Aqui se encontra
o xarope pronto. Dá pra fazer de várias formas diferentes, apenas acrescido de
água. É praticamente um suco, geladinho. No calor é delicioso.
Usa-se muito em doces, com uma
massa folhada ou podre e um recheio de creme feito com leite de amêndoas e por cima as amêndoas in natura.
Outro combinação boníssima é o
caffé ghiaccio feito aqui. Servido assim: embaixo o leite de amêndoas frio, depois o café quente
e por último gelo. Delicioso. Dá um toque delicado à bebida que me agrada, uma
pessoa não muito apreciadora de café.
Penso que não é difícil fazer,
mas já sei que não é como as outras castanhas que bato no liquidificador, tem
que ser prensada.
A pergunta que não quer calar é se esse xarope existe no Brasil,
mais especificamente em BH. Por isso peço um favor a quem puder: rola de dar
uma passadinha (este termo é muito mineiro, é lindo!) no Verdemar ou no mercado
central (naquela banquinha de produtos árabes) e descobrir se vende? Em caso
negativo deixo todos meus pertences na Itália e volto só com latte di mandorla
na bagagem.
Não deu tempo de fotografar a ricota antes da fuga de rosalinda, mas tá aí o leite de amêndoas para ajudar na pesquisa...
Oi, Teresa! Sua mineirice se revela toda no texto da ricotta, né não? Bom pra quem pode... e no lugar certo, que é a Itália! Quanto a esse leite doce de amêndoas, o que diz o rótulo? Beijos!
ResponderExcluirÁgua, açúcar, amêndoas e alguns têm aroma...
ResponderExcluirOs italianos têm muito orgulho da sua amêndoa, dizem que é muito melhor que a concorrente californiana, "bombada" e consequentemente menos saborosa...
Ganhei um livro de receitas salentinas vou pesquisar se tem o leite. depois conto!
beijo
Não tem no Verdemar e nem no mercado central.
Excluirputz
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