Há muito tempo elas vinham pensando
nisso. Uma aventura. Só as duas, mãe e filha. Não que a vida de
Rosalinda não fosse boa. Era bem tratada, tinha regalias pela sua
produção de leite, podia andar pelo pasto ao redor da casa, vivia
bem. Mas tinha um pouco de
fastio. Além disso, desde que sua filha Shiva havia
desmamado não passavam muito tempo juntas. Shiva, na flor da idade,
com todos os hormônios da adolescência aflorando em belos chifres,
era mantida presa com as cabras. Uma menina gigante no meio das
minúsculas amigas, um pouco pitoresco. Tinha saudades.
Rosalinda é dessas mães italianas, super protetoras.
Planejaram por um bom tempo e quando
chegou a oportunidade, todos na fazenda ocupados com alguma
atividade, não tiveram dúvida. Se olharam com aquela cumplicidade
materna e pata ante pata, saíram de fininho, rumo ao campo sem fim.
As primeiras horas foram de pura alegria, um certo frio na barriga de serem descobertas, mas com tanto mato para provar não pensaram muito nisso, e se divertiram. Mugiam, brincavam, pastavam, Shiva coçava seu pequeno chifre em toda árvore que encontrava, especialmente nas figueiras carregadas de fruta, que soltavam um perfume delicioso. E ainda comia os figos. Aquela árvore era perfeita.
Depois de um tempo tiveram sede e
Rosalinda não conseguia saber como arrumar água. Não havia visto no caminho nenhum balde como aquele da fazenda. Shiva estava um pouco
cansada, fazia muito calor e ela tinha muita sede. Rosalinda cedeu e
deixou ela mamar, como nos tempos antigos de criança.
Acabaram dormindo na sombra de uma
oliveira e quando acordaram já era noite. Pensaram em retornar à
casa, já estava bom de aventura. Mas de repente olharam para um lado
e para o outro e perceberam que não sabiam onde estavam. De que lado
tinham vindo? Onde era a estrada? Rosalinda é uma vaca esperta e
tentou ver as marcas de suas patas na estrada, mas era noite, não
podia enxergar muito e além do mais havia muitas marcas de pneu de
carro. Será que alguém as estava procurando? Já sentia saudade de
casa e dos mimos de Flavio e de Roberto. Mas se manteve firme e
calma. Não dava para fazer mais nada àquela hora, o melhor era
dormir e esperar amanhecer. Quem sabe o sol trouxesse boas notícias.
Acordaram com sede, Rosalinda amamentou
Shiva e depois resolveram caminhar, à procura de casa, de água, de
ajuda. Mas não eram muito boas para comunicar. Muito grandes, um
pouco desajeitadas, com a voz muito grave, quando encontravam alguma
pessoa faziam tanta festa, tanta confusão que acabavam espantando o
desconhecido. Tinham esperança de ouvir o carro de Flávio ou a voz
doce de Ruly as chamando. Continuavam a comer tudo que aparecia à
sua frente, assim foram caminhando, caminhando, cruzando a
estrada... Mas nada de novo aconteceu neste dia. Foram dormir um
pouco preocupadas, mas exaustas do segundo dia daquela aventura.
Sonharam com um campo de trigo e um rio, mesmo sem nunca terem visto
nenhum dos dois.
Enquanto isso no jantar da fazenda o
telefone toca. Um vizinho havia visto as vacas desaparecidas, mas não
tinha conseguido prendê-las. Saímos já tarde da noite atrás de
algum sinal. Nada.
Terceiro dia começa cedo na fazenda,
dois carros, cada um para um lado a procura das vacas. Chamam, buscam
sinais no chão, perguntam às pessoas. Rosalinda e Shiva já são
conhecidas a essa altura. Primeiro um conta que a irmã viu as duas
caminhando na manhã anterior, outro conta que elas comeram todo o
figo da sua casa. Mas as informações não são suficientes e depois
de mais de três horas rodando, os dois carros retornam com seus
motoristas cansados e um pouco frustrados.
Enquanto isso já distante dali
Rosalinda acorda com Shiva eufórica, felicíssima. Estava explorando
a região (porque Shiva, ao contrário de Rosalinda, não cansou da
aventura ainda), foi coçar o chifre numa bolota que havia no chão e
a bolota se rompeu. Dentro tinha uma polpa vermelha deliciosa,
fresca, que acabou com a sua sede. Elas não conheciam melancia, e a
melancia do salento é especialmente boa. Estavam no paraíso.
Comendo, explorando o campo, acabaram se
encontrando dentro de uma horta. Uma horta de tomate! Outro paraíso
gastronômico italiano, os tomates são tão doces e tão pouco ácidos, que as duas podiam comer aquela frutinha o dia todo. Mas antes
de acabar com a horta apareceram dois jovens. Vinham abanando as
mãos, gritando. Rosalinda não entendia muito bem o que faziam,
achou que era uma saudação e balançava sua cabeça enorme e mugia.
Os rapazes recuaram. Voltaram com uma corda e sem saber bem porquê
as duas foram amarradas e levadas para junto dos porcos. Estavam
assustadas com aquilo tudo, os porcos não eram simpáticos, achavam
que as duas vacas iriam roubar sua pouca comida. Porque para um porco
a comida sempre é pouca, nunca é suficiente. O clima era tenso, o
lugar era sujo e fedia. Rosalinda não entendia porque era tudo tão
sujo. Havia porcos na fazenda, mas era tudo limpo, quase cheiroso. Shiva era até amiga de uma porquinha que havia nascido na mesma
época que ela.
Depois disso não sei o que se passou
naquele lugar estranho. Roberto foi avisado no outro dia que haviam
encontrado as vacas fujonas e que agora ele devia uma horta de tomate
para os donos. Não pode ver o prejuízo ainda, tem que fazer perícia
e tudo mais, mas já buscou Rosalinda e Shiva. Voltaram estranhas,
cabisbaixas, caladas. Depois de um bom banho, Shiva já está melhor,
mas Rosalinda tem o olhar distante. Talvez esteja impressionada com
algo que viu ou viveu. Talvez prevesse as mudanças que estavam por
vir à sua volta, não sei. Rosalinda é muito sensível.
Rosalinda sua linda!!! Aprendi Tê, agora sei comentar UAUUU!!! Valeu Iara...
ResponderExcluirTeresa, conte para a Rosalinda que teve uma colega dela na Alemanha que ficou 3 meses fugida. Agora vão fazer uma animação sobre a aventura dela.
ResponderExcluirTô adorando toda a aventura!! Beijos
ResponderExcluirTó
Pois é, Rosalinda agora eh conhecida no Brasil! Mas continua um pouco cabisbaixa...
ResponderExcluirHahahahahahaah
ResponderExcluirAdoreiiiiiii!