Carlo e Stefania são um casal jovem e
simpático. São dessas pessoas que conhecem a história da sua
terra, e são engajados na política local. A atuação deles vai desde uma Palermo livre da máfia à alimentação típica da Sicília.
Stefania sabe onde encontrar os produtos orgânicos da região,
conhece os produtores, me diz o que é alimento de inverno e o que é
de verão. Carlo, neto de uma nonna da Líbia, sabe tudo
de cuscus. Aquele original. Começa me contando que seu pai só o faz
uma vez ao ano, porque não é coisa rápida. É um dia envolvido na
feitura. A comida aqui tem um tom ritualístico.
O cuscus original é muito diferente de
tudo que conheço como cuscus. Não é como o paulista e o do
nordeste onde a base é a farinha de milho. Mas também não é como
o cuscus de sêmola que não faz muito tempo tornou-se habitué no
Brasil. Carlos me conta que o cuscus original é como uma sopa.
Primeiro se cozinha a carne, originalmente de carneiro, depois acrescenta
os legumes e cereais. Cada família tinha sua receita própria,
muitas vezes a receita é resultado daquilo que se tem na geladeira
ou no quintal: abobrinha, berinjela, tomate, cebola, grão de bico,
salsinha...quando este caldo já é cozido, começa a preparação do
grão propriamente dito. Que deve ser cozido no cuscuzeiro. Se for de cerâmica, melhor ainda. Grão cozido, hora de montar o prato. O caldo por baixo
e uma porção da sêmola cozida por cima. Gostaria de experimentar,
mas são todos unânimes: esta é uma comida de inverno, não é para
o calor do verão italiano.
Em substituição me falam do tabulé,
o nome é como o da comida árabe, mas corresponde àquele cuscus com grão de sêmola que
nós comemos. Legumes picadinhos, cru ou
cozidos, tempero e o grão. Provo um só com legumes crus: tomate,
cebola roxa, pepino, milho verde, temperos, salsinha. Bom, realmente
este combina com o verão.
Isto tudo me fez lembrar de uma conversa com Roberto
e Maria'ssunta lá no Salento, uma receita que uma wwoofer espanhola
havia ensinado. Os pastores faziam para levar nos dias de pastorio
longe de casa. É um cuscus dentro de um gaspacho. Achei que é
perfeito para vivenciar a experiência do cuscus-sopa, porém fresco.
Juntei na minha imaginação com uma outra receita que lembro lá do
Corumbau, de uma sopa de tomate com laranja e camarão. Não tive
dúvida, mercado para comprar os ingredientes e mãos na massa. Ficou
assim meu cuscus:
Liquidifiquei: tomate (muito), cebola,
pimentão amarelo sem casca, pepino, um pouco de salsão, folha e
caule, alho porró, azeite, aceto balsâmico, sal, pimenta do reino.
Se estiver muito grosso, um pouco de água. Não tem medida, é com o
quê se tem e o sabor que se gosta. Provo e vou acrescentando um
pouco de aceto para dar um azedinho. Ah, manjericão também! Coentro
pode ser bom. Eu não tinha.
Hidratei o grão de sêmola e depois
espremi suco de laranja nele. Um pouco de sal e pimenta do reino. Por
último fiz, a parte, camarão sem casca salteado no azeite.
Juntei um pouco do gaspacho com a sêmola, e geladeira para esfriar.
Maria'ssunta me contou que na receita
espanhola original não se hidrata o grão antes e sim no próprio
gaspacho e deve descansar na geladeira por 24 horas. Segundo ela, se
começar a fermentar é melhor ainda, e quanto mais fermentar, mais
sabor tem. Você pode se sentir pastoreando nos campos espanhóis.
Amiga Teresa,
ResponderExcluirSão exatamente 13:05 e eu ainda não almoçei, então imagina a vontade que me deu de saborear essa sua receita...Huuummmmm o prato ficou lindo e o sabor deve ter ficado divino!
Obrigada por compartilhar e provocar o pecado da gula em mim...rsrsrsrsr
Paz e muita Luz
Lilian
rsrs. Lilian, belo aqui é pensar que se pode (e deve) falar do que comemos, este pecado está liberado! rsrs
ResponderExcluirbeijo, obrigada eu pela sua companhia no blog!
teresa