domingo, 30 de setembro de 2012

Clandestino, mas genuíno!




Esta é uma campanha feita por um movimento a favor dos pequenos agricultores aqui na Itália e seus deliciosos produtos: Clandestino, mas genuíno!

A idéia é que as normas higiênicas sanitárias para os pequenos produtores não podem ser as mesmas da indústria dos alimentos. Pois estas leis são pensadas para grandes produções, que trabalham com grande quantidade de matéria prima e humana. E esquece a realidade do pequeno produtor que trabalha com produto de altíssima qualidade e frescor e onde muitas vezes a mão de obra se resume ao agricultor e família.

A campanha é para os consumidores ajudarem a divulgar e consumir produtos que pela legislação são fora da lei, mas são autênticos e idôneos.

Essa também é a realidade no Brasil. Estamos agora às voltas na fazenda com a construção de um laticínio, que com nossa pequena produção utilizamos dois ou três dias na semana, e não podemos usar este mesmo espaço para uma vez ao ano em Abril fazer a goiabada ou no inverno, em dias diferentes, fazer a geléia de morango... Regras higiênicas tão distantes da nossa realidade e necessidade..




sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Pequeno diário de bordo - Vendemmia


1o. dia, segunda feira - 17 de Setembro: comecei com medo de ser um trabalho muito pesado para minhas costas, frágeis depois de 15 dias que tinha uma dor um pouco estranha na lombar. Mas me surpreendi, é difícil, mas não é impossível. E as costas acostumam. Difícil foi a comunicação, de repente descobri que não sei nada de italiano, ou caí de para quedas na Rússia e nem notei. Italiano toscano, daquele quase um dialeto é duro. Peço para repetir uma duas vezes e continuo sem entender, concordo com a cabeça e me concentro nas uvas. Dizem que a língua italiana nasceu na Toscana com Dante Alighieri, Boccaccio...

2o. dia, terça feira - 18 de Setembro:  o dia passou rápido, a comunicação ainda é pequena, converso mais com um polonês que mora aqui faz 7 anos do que com os toscanos. Mas tenho um amigo que sabe um pouco de português que me ajuda em alguns momentos. No mais gesto e palavras soltas. Gosto do trabalho, tenho a impressão que em todos os lugares se olhar para cima vou ver as torres de San Gimigniano ao fundo, cena de filme. Daremos uma pausa para esperar a uva amadurecer um pouco mais, recomeçamos na próxima segunda. Pois é, fazer vinho é negociar com a natureza. Este ano muitas videiras estão bem secas, com uvas pequenas devido à seca do verão. Segundo o Pietro será um vinho bom, mas em pouca quantidade...

3o. dia, segunda feira - 24 de Setembro: segunda feira sempre é um pouco duro, principalmente depois de um final de semana em que exagerei um pouco no vinho. Pra começar cortei o dedo, tem horas que a velocidade  atrapalha, é daqueles trabalhos que parece que não mas exige atenção. Se trabalha geralmente em dois, um de um lado e outro do outro de uma fila de videiras, comecei fazendo par com o cara mais antigo e experiente, fui tentar acompanhar...deu no que deu... As horas não passavam, ou melhor os minutos! Depois de cinco dias parada a dor nas costas voltou como se fosse o primeiro dia. Pra fechar com chave de ouro fiz um movimento de abaixar mais longo e só ouvi o barulho da calça rasgando...

4o. dia, terça feira - 25 de Setembro:  o tempo continua um pouco mais lento que o normal, mas ao menos foi mais divertido. Já consigo entender um pouco do sotaque local, eles falam o C sem fazer o som, como os espanhóis com o J. Depois deste entendimento básico, tenho uma comunicação também básica. Me diverti mesmo foi fazendo a função de descarregadora de cestos. Funciona assim, geralmente vão duas pessoas colhendo uva por linha da videira, em três linhas ao mesmo tempo, numa delas o trator com a carretinha e uma pessoa com cestos extras, que troca com quem já tem o seu cheio e joga a uva na carreta. É um trabalho pesado, mas que varia o local do esforço, ao invés das costas nos braços. E ainda tem um certo poder, pois controla o tratorista, fico gritando: ferma! vai! de acordo com o ritmo da colheita. Começou as brincadeiras de vendemmia: jogar um bago de uva no outro e fingir que tá bem concentrado no trabalho...

5o. dia, quarta feira - 26 de Setembro: fui escalada para uma outra função, fazer o suco de uva. O processo é simples, a uva que foi prensada, fica resfriada primeiro. Agora o trabalho é colocar nos vidros e levar em banho maria por 20 minutos para pasteurizar. Não coloca água, açúcar, conservantes, nada, só uva. A melhor parte deste trabalho é que fazemos vizinhos à cantina, onde se produz o vinho. O cheiro de uva fermentada inebria. Nesta época do ano você anda nas regiões rurais e é normal sentir este cheiro, dá pra saber onde tem uma cantina fazendo vinho só pelo olfato. Acompanhei um pouco mais do processo do vinho. Descobri por exemplo que aquelas uvas quase secas que eu tinha dó de não colher dão é prejuízo pois entopem a mangueira por onde passam para ir até a vasca onde vão fermentar, falta líquido para mover e ficam horas tentando fazer essa pasta chegar ao seu destino.

6o. dia, quinta feira - 27 de Setembro: de novo fazendo suco, já tô com saudade das videiras. Aqui ficamos um pouco enclausurados. Trabalho com um rapaz que já conhecia, o Samo, é divertido porque conversamos, ouvimos música, tudo enquanto lá fora o trator vai e volta com uva. Assiti uma cena ótima do Pietro com o enólogo, que nesta etapa do processo vem toda semana para acompanhar a evolução da fermentação dos vinhos. (um parêntese para uma explicação rápida, eu tinha o costume de vinhos feitos com uma variedade de uva só, aprendi que este é o modelo dos vinhos internacionais, que geralmente são feitos em grandes fazendas, uma uva só, um mesmo sabor, sempre. Os vinhos italianos de pequenos produtores são diferentes, cada ano é um vinho próprio, porque mesclam diferentes uvas. O nome do vinho neste caso geralmente vem da região, com preponderância de uma uva claro, mas é parte do trabalho criar a melhor combinação possível. Resumindo não importa a uva, mas o sabor). Pois bem, os dois literalmente bochechavam cada vinho (ou suco de uva fermentando..), cospiam e gesticulavam, o enólogo dizia qualquer coisa, Pietro levantava as mãos, dizia outra, e assim foram, vasca por vasca nesta cena de cinema, e eu só olhando e filmando, no coração!

7o. dia, sexta feira - 28 de Setembro: último dia de vendemmia para mim. Na verdade uma pequena colheita visto que faltava terminar cinco filas de videira e depois esperar que as outras estejam mais maduras para recomeçar a colheita. Trabalhei só duas horas, com poucas pessoas, mas foi o dia de melhor comunicação entre os toscanos e eu. Já estão até combinando de ir ao Brasil! Eu convido todo mundo que encontro, hehe, aja espaço na fazenda! Terminei feliz de fechar este ciclo com novos amigos, uma experiência nas costas, literalmente, uma imagem da Toscana em colheita, com tratores por todos os lados carregados de uva, cantinas com seus cheiros especiais, senhorzinhos e senhorinhas fazendo a colheita enquanto riem e falam besteiras.

foto tradicional



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Schiacchiata de Uva

Essa é pra mim a receita da vendemmia. Na Itália época de uva, é época de pão de uva! A schiacciata é como uma focaccia doce, com uvas que derretem quando cozinham e soltam seu líquido sobre o pão. Adorei desde o primeiro pedaço que comi. Não posso ir numa festa ou numa feira para procurar as barracas de pão e escolher a schiacciata mais bonita, aquela com cara de pão artesanal molhadinho...

Aurora e eu ensaiamos várias vezes de fazer, uma receita da sua mãe que nos disse até em qual videira devíamos colher as uvas. Mas acabou que ela foi embora antes de rolar. Hoje pensei que faria para comer junto com meus amigos da vendemmia, já que amanhã é meu último dia. Mas o tempo foi mais rápido que eu e hoje só vi uva branca na cantina...

Fica a receita para quem se animar. Farei provavelmente quando voltar para a Toscana, daqui a alguns dias, porque amanhã é dia de pé na estrada! Até lá, olho nas barraquinhas de pão...

A receita da massa é como de uma focaccia. Pensei em colocar na máquina de pão para bater.
1 copo de requeijão (hehe) de água
2 copos de farinha de trigo
2 colheres de sopa de açúcar
1 colher de café de sal
4 colheres de sopa de azeite
1 envelope de fermento para pão

Para o recheio, uva roxa, daquela pequena (aqui é mais específico, mas acho que vai bem com a isabel que temos por aí...) e açúcar.

Depois da massa batida, importante que não seja uma massa muito dura, deixar descansar um pouco e depois espalhar em uma assadeira metade da massa com a ajuda de um rolo, uvas por cima, polvilhar açúcar e depois mais massa repetindo a operação das uvas e açúcar. Cabe também um temperinho tipo alecrim...


 Enquanto não faço a minha, foto do site semplicemente pepe rosa


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Comida pra Vendemmiar

Contei pro Pietro que uma vez vi no livro do Jamie Oliver na Itália, uma foto dele levando umas lasanhas maravilhosas na carroceria de um trator para os vendemiadores almoçarem. Cena de livro, é claro, mas linda.

O que descobri é que tem de tudo na vendemmia. Fazendas pequenas que trabalham praticamente a família e alguns amigos, e nestes lugares os almoços são momentos de festa, comida e vinho, já celebrando a produção que virá. Outros que cada pessoa leva seu almoço, mais prático, e depois no final fazem um grande dia de festa (sempre tem a festa, como se pode notar) com pizza, vinho, histórias. Aqui na Majnoni Guicciardini é assim, cada um por si na hora de comer. O Pietro já tem coisa demais para se preocupar sem isso.

Mas acho que ele ficou sensibilizado com minha imagem romântica do almoço da vendemmia, e ontem chegou em casa com uma ricota fresca de ovelha feita por um pastor das redondezas e com muita disposição de fazer uma super torta para o jantar. Que claro, sobrava para um super almoço de vendemmia.
A ricota era um negócio de louco, não tenho palavras para descrever. E sempre a premissa, precisa ser comida logo, dois ou três dias no máximo. Eu faço a minha parte, sem problemas, ficar velha é que não vai comigo por perto!

A torta foi mais ou menos assim, digo mais ou menos, porque o Pietro segue três sites diferentes para fazer uma receita, além da parte que ele inventa, é claro. O importante é o resultado, que foi aprovado!

Massa da torta:
1 e ½ xícara (chá) de farinha de trigo
6 colheres (sopa) de manteiga
1 ovo
2 colheres (sopa) de água
pitada de sal

Prepare a massa colocando a farinha de trigo em uma mesa e abrindo um buraco no meio. Coloque no centro da farinha a manteiga gelada cortada em cubos. Misture com a ponta dos dedos até a massa ligar. Bata levemente o ovo com a água e o sal e adicione à mistura de farinha. Ligue a massa. Deixe descansar por 20 minutos.

O recheio é super simples, amassar a ricota e temperar com açafrão (pistilo), um pouco de queijo curado de ovelha, sal, azeite, um ovo e se quiser um pouco de presunto cru picado. O tempero é como você gosta, cheiro verde também pode ficar bom, tudo respeitando o sabor suave da ricota...

Depois é só abrir a massa numa forma com papel manteiga, colocar o recheio dentro e fazer as listras com a massa para ir por cima. Montada, forno, por uns 40 minutos, até a massa dourar. Pronto, depois você tá pronto para trabalhar na colheita das uvas, almoço de vendemmia garantido! Eu posso dizer que passei bem!


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Pigia Pigia

O slow food de Bolonha promove na cidade o Mercato da Terra, onde os pequenos produtores de alimentos orgânicos, tradicionais ou artesanais expôem sua saborosa produção.

Neste dia acontece também uma atividade de experimentação e vivência do alimento para crianças. Sabores, cores, texturas, processos. Tudo para a meninada se divertir com o alimento, a terra e seus ciclos. A foto abaixo é do evento da semana passada, o nome da brincadeira "Prensa, Prensa", uma homenagem à toda uva que está sendo colhida nesta vendemmia.


mais fotos no facebook do slow food bologna, mais informações sobre o projeto de educação alimentar do movimento no site slow food educa

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Semana da Uva: vendemmia

Só para dizer que esta é oficialmente a semana da uva pra mim. Aguardem histórias, receitas, mesmo que se cansem de uva. Porque estou fazendo a vendemmia, colheita da uva para a produção do vinho. Uma experiência super especial, minhas costas não têm a mesma opinião, mas como não têm muito poder de decisão continuam indo mesmo reclamando. Legal porque é um programa muito italiano, tradicional, me sinto absorvendo uma atmosfera de histórias enquanto faço um trabalho que para muitos pode parecer repetitivo e cansativo: meio abaixado meio em pé, cortar todos os cachos de uva de uma videira que parece não ter fim.



Pietro meu super professor, pai, amigo, anfitrião, tudo junto num só ser!


sábado, 22 de setembro de 2012

Osteria Bolognesa

Osteria é o bar das antigas. Na época que era normal levar a comida de casa e ir no bar para beber vinho. Primeiro era um programa de homens, um lugar para se encontrar que não fosse a igreja ou a praça.

Depois começou a servir comida, alguns viraram tratoria, saiu um pouco de moda com a chegada dos restaurantes, mas agora voltou com força total. Do tipo programa-cool-com-comida-local. Se você tá pensando em vir para a Itália essa publicação do slow food pode te dar várias dicas legais de onde comer: Osterie d'Italia.

Mas se você quiser viver um programa mais tradicional ainda, vale a pena ir a Bologna, comprar nas bodegas históricas seu pão, queijo, mortadela (a famosa) e depois ir pra Osteria del Sole, que existe desde 1465 (dá vontade de rir quando lê essa data, num dá?) e segue o velho modelo traga sua comida e consuma nosso vinho! Programa histórico com direito a vinho orgânico e tudo. Valeu Claudia e Marcelo, vocês não poderiam ter me levado num lugar mais legal. Adorei tudo, principalmente encontrar vocês!


na mesa ao lado o jogo de baralho, osteria é isso também, tarde entre amigos!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Salumeria


Este deve ser dos assuntos mais complexos da alimentação italiana. A variedade é imensa, a tradição também. Talvez esteja no topo da cultura gastronômica na Itália, junto com queijos e vinhos. E o pão!

Como muitas das comidas brasileiras (feijão tropeiro, carne de sol, etc), os salames e as carnes curadas nasceram da necessidade de conservar a carne por mais tempo. O nome vem do uso do sal como conservante básico. Antigamente era uma atividade de inverno. Hoje em dia se reproduz o frio nas instalações de um "salumificio" e pronto.

Outra coisa que descobri é que geralmente as carnes aqui descansam antes de serem consumidas ou trabalhadas. Um processo para enxugar o excesso de água e para que as enzimas trabalhem felizes da vida, já amaciando a carne. É assim inclusive para fazer as famosas bistecas fiorentinas. 

Cada região tem seus salames tradicionais e a diferença muitas vezes pode ser sutil para uma não-entendida, como eu. O pasto que o animal se alimenta, a diversidade topográfica que o faz caminhar menos ou mais, a rusticidade da raça, as partes utilizadas, os temperos, a forma de maturação e por aí vai. Carece de um estudo aprofundado para conhecer e identificar. Ou você pode fazer um verdadeiro laboratório do gosto, experimentando todos!

Eu cutuco as pessoas e assim monto um mosaico de histórias e sabores. Aprendi, por exemplo, que do Casentino vêm os melhores salames de javali (cinghiali). Que entre Firenze e Siena, nos bosques do Chianti, é de onde vem o porco conhecido como "cinta senese", porque tem uma faixa rosa no peito. Produz uma variedade de salames das mais antigas e saborosas, tem uma gordura especial de um animal criado meio solto, que dá um sabor peculiar.

Na Toscana, além do salame toscano que não me parece muito diferente de outros (desculpem minha ignorância pessoal) tem um outro tradicional que, este sim, me parece muito especial. Finocchiona, porque feito com semente de finocchio, conhecida no Brasil como erva doce. Mas não a mesma erva doce. Trata-se de uma variedade selvagem que se pode ver em qualquer pasto por aqui. No Salento, enquanto dava voltas e mais voltas procurando Rosalinda, sentia o ar perfumado de tanta erva doce selvagem que tinha pelos caminhos. A diferença? Me parece mais perfumada e mais delicada que a cultivada no Brasil. O resultado no salame é impressionante. Uma amiga brasileira que não gosta de erva doce provou o finocchiona sem saber e adorou. A quantidade certa do tempero com um punhado de pimenta do reino dá um sabor único ao salame. Descobri também que nas antigas ele era consumido ainda macio. Segundo meus novos amigos, uma família muito alegre que possui um salumificio em Castelfiorentino, ele era tão cremoso que era comido com colher. Eles buscam resgatar estes sabores tradicionais e o finocchiona produzido aqui tem essa diferença. Em vez de seco é macio. De comer ajoelhado, como diria minha madrinha.



o trabalho da família Pasquinucci com a finocchiona, estão todos animadíssimo de ir ao Brasil!

Por último, o lardo. Este é o nome dado à gordura do porco consumida, como posso dizer, como um patê. Pois é, parece nojento, mas é uma iguaria. O processo consiste em deixar um pedaço da gordura em uma infusão com temperos. Aí vai ao gosto do freguês: canela, cravo, louro, erva doce, pimenta, etc. Os produtores mais tradicionais tem preocupação até com o material do vasilhame, que deve ser de mármore. Coisa de entendido. Depois de algum tempo mergulhado nos temperos está pronto para ser consumido. Vai sobre crostinis e se você não souber o quê é, vai comer até se esbaldar.



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pão do coração


Hoje estou sentindo uma felicidade estranha. Sabe aquela alegria um pouco "super sensível" que você tá feliz mas tem uma certa vontade de chorar... Sinto isso geralmente quando vejo alguma coisa muito bela, que me emociona.

Tive dois momentos muito legais hoje, talvez seja isso.

O primeiro foi conhecer uma escola waldorf numa cidade aqui vizinha. Pode parecer pouco, mas me emociona profundamente a energia dessas escolas. As pessoas têm um semblante tranquilo, as crianças parecem mais felizes, o espaço lembra um lugar mágico, com seus quadros negros com desenhos lindos, sala de marcenaria e trabalhos manuais, tudo tão diferente, ao mesmo tempo me parece tão lógico para uma escola, para ensinar à crianças. Sei que esta é só a visão romântica de pessoas, crianças, espaços, mas posso guardar essa boa sensação no meu coração, não?

Depois fui conhecer uma fazenda biodinâmica chamada Camporbiano. Entre tantas coisas bacanas que eles fazem, desde à autosuficiência em energia elétrica, à produção de queijos, pão, massas, verduras, fiquei encantada mesmo foi com a farinha de trigo. Eles plantam o grão e depois fazem a farinha. São diversos tipos de grãos/cereais e depois três pontos de moagem, que fazem uma farinha mais grossa ou mais fina. O moinho de pedra todo feito em madeira por fora é incrível, pequeno, prático, eficiente.

Meus pensamentos começaram a voar até o Brasil, fiquei pensando como consumimos farinha de trigo e produtos feito com ela sem ter nenhum contato com o trigo. A maioria das pessoas, aposto, nunca nem viram um pé de trigo. Não sei se minhas informaçõe estão atualizadas mas me lembro que já li que a maior parte do trigo consumido no Brasil vem da vizinha Argentina. Um grão, que segundo Sonia Hirsch uma amiga/mestra, viaja em condições muitas vezes insalubres, sabe-se lá quando foi feito ou que variedade é. Me lembro de ter visitado uma vez uma fazenda "indústria" que entre outras coisas plantava trigo, um plantio a perder de vista, caminhava e um enxame de um inseto preto literalmente grudava em todo o corpo, uma coisa estranhíssima. O primeiro lugar que ouvi dizer que joaninha, aquele outro simpático inseto que povoa nossa cabeça com coisas alegres, era praga. Eles odiavam a coitada da joaninha, que andava em grupos grandes por lá...

Aqui as fazendas são menores,  é normal cada uma produzir um pouco de grão, mesmo que só para seu consumo. É costume na Itália conhecer os diversos tipos de grãos e cereais/primos (aqueles que fazem boas farinhas e podem ser usados juntos com o trigo), eles conhecem as variedades mais antigas que são mais digestíveis e muitos optam em plantar somente estes tipos de grãos.

O resultado se sente no pão. A cultura do trigo não deixou o pão industrial, como o nosso famoso pãozinho francês, pegar por aqui. Bem que tentaram, mas o povo é categórico quando se trata de alimentação, escolhem até o forno que preferem para ter o mais saboroso e saudável pão.

Volto às escolas waldorfs que num determinado ano fazem as crianças vivenciarem todo o processo da produção do pão. Começam construindo o forno, dia de muito barro, trabalho e bagunça, afinal são crianças. Depois chega o dia de fazê-lo. Me lembro que estava visitando a Rudolf Stenier em SP no dia que haviam feito o pão. Impossível esquecer a alegria daqueles meninos oferecendo o resultado do seu trabalho a nós visitantes. Pão do coração.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Acelga

Acelga aqui é como a couve em Minas. Pode aparecer toda hora num almoço. Tem aquelas lindas com o talo colorido, mas o normal mesmo é a verdinha com talo branco esverdeado. Chama bietola aqui.

A receita mais simples e saborosa aprendi com Pietro, hoje (eu acho que ele podia abrir um restaurante...mas ele me diz que já teve a experiência e...que não!).

Primeiro cozinhar a acelga inteira com talo e tudo num pouco de água numa panela com tampa. Paciência, deixa cozinhar, coloca bastante porque ela vai murchar toda. Quando o talo estiver bem macio escorrer e colocar num prato.

Por último temperar com azeite, sal e suco de limão. Mais simples impossível, mais saboroso também. Sou fã.


com direito a gotas de limão no ar!

domingo, 16 de setembro de 2012

Que caixas, que nada!


Os expositores do Salone del Gusto e Terra Madre entrarão num concurso para demonstrar que mesmo os sabores tradicionais precisam de inovações para garantir embalagens realmente ecológicas. Está chegando ao Lingotto o Prêmio SlowPack 2012.

As embalagens são um dos resíduos domésticos mais frequentes. Como podemos evitar as latas, os plásticos e as embalagens que enchem os supermercados?

Com a primeira edição do Prêmio SlowPack, o Slow Food abre as portas para novas ideias. O concurso será realizado ao mesmo tempo que o Salone del Gusto e Terra Madre e será aberto a todos os produtores expondo produtos no Salone.

O objetivo é refletir sobre o impacto das embalagens tradicionais no meio ambiente e na qualidade e segurança dos alimentos.

Há alguns anos, os produtores da rede do Slow Food estão empenhados na implementação de embalagens ecológicas e inovadoras.

Na região da Campania, na Itália, por exemplo, alguns produtores usam redes biodegradáveis para embalar aspapaccelle napolitanas, os pimentões de uma Fortaleza Slow Food. A embalagem é fechada manualmente, sem dispositivos ou materiais adicionais, respeitando, assim, o critério de redução de componentes.

cominho de Alnif, uma Fortaleza Slow Food do sudeste do Marrocos, é vendido no mercado local em saquinhos plásticos fechados com fita adesiva. A Fundação Slow Food para a Biodiversidade projetou uma embalagem reciclável, a baixo custo. Os produtores estão envolvidos também na realização da embalagem do produto. A caixa, feita em papelão totalmente reciclado, não tem partes coladas.

No Quênia, para dar outro exemplo, a comunidade Bukusu empacota o sal de cana do rio ‘Nzoia (Fortaleza Slow Food) de forma simples, ecocompatível e com custo zero: duas folhas de bananeira cultivada no local são secas nas cinzas quentes durante uma noite inteira, dobradas em forma de trouxinha e fechadas com um fio obtido das mesmas folhas. O sal é vendido no mercado local, sem sacos plásticos ou outros materiais.

Desde 2008, os produtores de alho vermelho de Nubia, uma Fortaleza da Sicília, na Itália, fazem um trançado novo com quatro cabeças de alho, que forma um tipo de alcinha para pendurar.

O prêmio SlowPack 2012 será dedicado especialmente a problemas como a recuperação de formas tradicionais de embalagem e conservação; inovação e sustentabilidade de materiais reutilizáveis, recicláveis e biodegradáveis derivados de processos de alta eficiência energética; rótulos capazes não só de comunicar de forma clara a origem dos ingredientes e a história do produto, mas também de sugerir como reutilizar ou eliminar a embalagem.

O Slow Food está ansioso para analisar as propostas dos produtores. Os vencedores do prêmio SlowPack 2012 serão anunciados durante o Salone del Gusto e Terra Madre, o encontro é de 25 a 29 de outubro em Turim!


Texto do sitehttp://salonedelgustoterramadre.slowfood.com

Outro dia vi a programação do Terra Madre...é como essas embalagens, de enlouquecer! Fico só sonhando com as embalagens DaHorta...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Florença


Faltava um post sobre Florença. A cidade é um elo para mim: trem pra Certaldo, ônibus pro Casentino, depois volto pego um trem para Bologna, e mais um monte de vezes para Certaldo. E assim as estações já são bem conhecidas.

Mas claro que é muito mais que um ponto de partida e chegada, e sempre dou um jeito de dar umas voltinhas pela cidade que para mim, é a mais bonita da Itália até agora...

Como Liza, uma amiga, não estava disponível para a turnê pelas sorveterias da cidade, programa que já me prometeu que faremos, resolvi dessa vez ir ver o cara mais famoso da praça: Davi. Aqui vem a coisa incrível. Dá primeira vez que vim à Florença fui à Galleria degli Uffizi - escolhi que esta seria a fila que eu enfrentaria naqueles dias. E valeu a pena. O museu tem uma coleção única de peças renascentistas e, pra mim, a mais impressionante e comovente de todas: O Nascimento de Vênus, do Botticelli. Eu devo ter ficado muito embasbacada porque saí de lá e passei ao lado do pseudo Davi que está na Piazza della Signoria e nem dei bola, não vi nada. Agora quando cheguei na praça percebi que o pseudo Davi fica do lado do museu. Quer dizer, digo pseudo Davi porque esta é uma cópia. A original fica muito bem guardada na Galleria dell'Accademia.

Um outro fato marcante deste passeio: resolvi procurar com mais afinco um restaurante que minha prima Alice tinha me indicado e que me parece genial. Vizinho ao mercado central de Florença, ele faz o cardápio de acordo com a oferta de verduras e legumes do dia. Um lugar onde o cliente se adapta aos produtos da estação e não o contrário. Eu tinha procurado duas outras vezes, mas sem o endereço, só no olho, porque sabia que era vizinho à Piazza San Lorenzo, e não tinha encontrado. E agora com o endereço, claro que achei. Eu tinha estado ali do lado diversas vezes, inclusive porque me perdi naquele pedacinho da cidade um dia. Dava voltas e voltas pelos mesmos lugares, que se confundem devido à uma grande feira de bibelôs florentinos que se estende por várias ruas.

Conclusão desta enrolação toda: a gente olha, mas muitas vezes não vê nada. Fico me perguntando quantas vezes precisaria para enxergar metade, só metade, das coisas que estão à minha volta. Isso realçou uma decisão que tomei no começo da viagem: nada de excesso de arte. Eu preciso de tempo, preciso sentir uma coisa bela com os olhos do coração e depois sei que carrego comigo aquela sensação e lembrança. Muitas vezes, em viagens, a gente quer ver tudo, quer aproveitar cada espaço-tempo para visitar, conhecer, como se marcar um X em cada ponto turístico fosse o mais importante da viagem. Tudo na vida precisa de tempo. A arte, mais do que tudo. 



Bem, minha dica cultural de Florença é o Palazzo Medici Riccardi. Mais precisamente a Capela dos Reis Magos que tem lá dentro, toda com afrescos de um tal Benozzo Gozzoli. Imperdível, emocionante e com a vantagem que não tem fila!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Panzanella Toscana

A panzanella é uma salada toscana típica de verão. A receita oficial lá em casa (hehe) é do livro do Jamie Oliver na Itália. É um pouco longa e excessivamente cuidadosa, o que claro, gera um resultado maravilhoso, mas eu só fazia em dia de festa, com tempo na cozinha para preparar tudo com calma como manda o figurino.


Panzanella do último ano novo na fazenda.


Agora aprendi a fazer a panzanella de todo dia, ou melhor daquele dia que tá cheio de pão velho (e aqui sempre tem muito pão deliciosamente velho) e algumas coisas na geladeira ou na horta. Simples, fácil, complementa um almoço ou pode ser pra um domingo preguiçoso...

A base da salada é pão velho e tomate. Claro que se você tem um bom pão velho faz toda a diferença, e se ainda tiver mais de um tipo de tomate é perfeito!

Outras coisas fundamentais são: basílico, cebola roxa, azeite de oliva, aceto balsâmico e pimenta do reino.

Outras coisas que vão bem: pepino, salsão, aliche, azeitona, pimentão.

Primeira coisa é fazer o pão ficar macio de novo, duas opções: com um pouco de água e aceto ou com o caldo do tomate depois de picado e aceto. Ou as duas coisas se quiser.

O belo desta salada é a rusticidade. O pão depois de úmido deve ser picado com a mão, pedaços irregulares, para combinar com a irregularidade dos tipos de tomates...

A cebola fica de molho um pouco na água fria picada em rodelas...

Depois é só misturar tudo, temperar com o azeite, sal, pimenta do reino. Uma hora na geladeira para o sabor misturar bem é bom, mas não é obrigatório.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Arte, Pera, Vespa - Toscana em 3 atos


1 - Art in Campo. Chegar à Toscana para esta festa direcionou muitas das minhas decisões na viagem. E valeu a pena. Uma festa para arrecadar fundos para uma escola waldorf já me anima, feita por amigos bravíssimos melhor ainda. Juntando artistas, viajantes, vizinhos, amigos. Uma festa para crianças e adultos. Aquele gostinho de arte, alegria, encontros por todos os cantos. Foi assim o sábado. Eu me senti em casa, tantos amigos que reencontrei!
(aqui um parêntese para contar da minha amiga holandesa - aquela do pic nic - Williemiek tem uns 40 anos, este ano resolveu se dar umas férias diferentes, escolheu 2 fazendas wwoof na Itália e veio para um mês em Julho. Viveu dias tão felizes aqui que quando voltou para Amsterdã percebeu que precisava mais dessa energia, isso era mais importante para sua sobrevivência interna que as coisas da sobrevivência externa. Não teve dúvidas, deu um tempo em tudo e voltou para mais dois meses na Toscana, mais exatamente na Officinalia. Tá linda, feliz da vida, aprendendo a fazer queijo neste momento...)


Teatro com desenho animado - invenção de dois meninos: um grande e outro de oito anos. Atriz-espantalho Chiara.


2 - Depois da festa um pouquinho de trabalho com esta turma maravilhosa da Officinalia - imaginem que agora tem uma wwoofer brasileira! tudo de bom.  O pessoal aqui é tão bacana que outra wwoofer belga que conheci em Julho também voltou para a festa. A bruscheta do jantar era bélgica-brasiliana... A albicocca já acabou, teve a safra dos tomates e agora é a hora da pera...o que dizer? deve ser a primeira vez que como pera assim, no pé, a vontade, madurinha...inclusive descobri porque sempre vendem a pera verde, porque ela estraga muito rápido se colhida madura, é mais garantido colher verde...não aqui!


Enchemos essa carreta de pera e ainda tem tanta pra colher...


3 - A melhor parte do trabalho foi o percurso! Fui de vespa, não aquela romântica das antigas que pensamos quando falamos de Itália. Uma normal, scooter, nem muito velha, nem muito nova. Emprestada da minha amiga Aurora.  Mas que delícia. Acho que esta era uma cena que tinha na cabeça: de vespa na Itália! Não conseguia me controlar e dava verdadeiros gritos de felicidade guiando entre San Gimigniano e Certaldo. Dois borgos medievais lindos da Toscana e eu ali no meio numa motoneta a 40 por hora. Feliz da vida.



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Casas portáteis

Já pensou que um parque pode ser a extensão da sua casa? Não dá tempo de voltar para almoçar em casa? Que tal no parque? Aquela dormidinha de depois do almoço? Tem algo melhor que dormir ao ar livre, com um ventinho fresco batendo no rosto? E o tempo de brincar com o filhote na manhã ou fim da tarde...que tal se fosse num parque ou numa praça... o aniversário também! Porque não?! Lugar pra festa sem aluguel!

Ou mesmo as escolas, que hoje sofrem com a falta de espaço e área sem cimento para a criançada brincar, porque não usar mais dos espaços públicos gratuitos das cidades?

Se a moda pega podemos ter como na foto abaixo: bibliotecas gratuitas do lado das espreguiçadeiras. Espaço para a criançada desenhar, pintar ao lado da mãe que tira uma soneca.



Podem me dizer que é um sonho, que o Brasil é muito perigoso pra isso, muito poluído, etc... Mas depois de sentir essa experiência na pele não consigo perder a esperança que a gente pode...

Aproveito para compartilhar esse video de uma apresentação do Roberto - meu irmão querido - numa cruzada contra o excesso de asfalto e o sumiço dos rios...



Olha que legal esta campanha da Piseagrama, uma boa proposta para nossas cidades!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

CouchSurfing

O bom de viajar é descobrir outras maneiras de viajar. Aquelas coisas que você ouve falar uma vez ou outra, mas só quando está em movimento presta realmente atenção.

Aconteceu assim comigo e o couchsurfing. Tinha feito minha inscrição no começo da viagem, depois tive preguiça de olhar com calma como funcionava. Achei que tinha que pagar, que o site era só em inglês enfim, bobeei.

Agora apareceu a necessidade, fui olhar com calma, procurar alguém para me hospedar em Lugano e estou encantada! Vamos lá, informações básicas. Começou em São Francisco - EUA em 2003, é um site de encontro entre pessoas que estão viajando e outras que possuem um sofá-cama disponível para hospedar. Aqui vale a lei da reciprocidade, se você se cadastra e quer surfar - procurar alguém para te hospedar - deve também oferecer o seu sofá. Mas nada é rígido, se você não pode naquele momento ou está viajando é só marcar na sua página, sem problemas. Ah, funciona assim, você tem uma página com suas informações básicas, uma foto, seus dados, seus interesses. A inscrição é gratuita e depois é fácil ter acesso a todas as pessoas inscritas. Quando escolhe surfar é só colocar o nome da cidade e aparecerá uma lista de pessoas disponíveis em hospedá-lo, se você tiver tempo escolha uma de cada vez, escreva e espere a resposta - é feio disparar email para todo mundo. Na página tem também um espaço para as pessoas colocarem a sua opinião, tanto de quem hospeda quanto do viajante, aumentando a segurança do sistema. Eu por exemplo encontrei um brasileiro, com ótimas referências e um sofá disponível. Estou bem feliz em falar português por 2 dias, ao mesmo tempo aliviada que ainda sei! ahahaha. Tá certo que o encontro com uma cultura diferente é parte do objetivo do couchsurfing, mas eu precisava da hospedagem rapidamente e é bem mais fácil a troca de email e de confiança se você encontra alguém do seu país...

Vira uma rede de amigos virtuais, inclusive pode ser coligado ao seu facebook. Além do serviço de encontro entre os viajantes e sofás tem também diversos grupos de discussão, encontros organizados por couchsurfers locais para um almoço ou um café, lista de eventos na cidade onde você está indo...é um mundo próprio. Daqueles que vale a pena conhecer.

Abaixo uma parte da definição do CouchSurfing:

"Participação na criação de um mundo melhor, um sofá de cada vez":[3]"CouchSurfing procura ligar pessoas e lugares internacionalmente, criar trocas educacionais, fomentar consciência coletiva, espalhar a tolerância e o entendimento cultural. Como uma comunidade almejamos fazer a nossa parte individual e coletiva para criar um mundo melhor e acreditamos que o surf de sofás é um meio para atingir esse objetivo. O CouchSurfing não é mobília, não é encontrar alojamento gratuito por todo o mundo; é estabelecer ligações por todo o mundo. Fazemos o mundo um lugar melhor abrindo as nossas portas, os nossos corações e as nossas vidas. Abrimos as nossas mentes e damos as boas vindas à sabedoria que a troca cultural oferece. Criamos ligações profundas e significativas que cruzam oceanos, continentes e culturas. O CouchSurfing quer mudar não só a maneira como viajamos mas também a maneira como nos relacionamos com o mundo!"

Para inscrições: www.couchsurfing.org

Espero todo mundo lá!


o sofá do Denis!


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

...

Adoro a Mafalda do Quino. Fico impressionada que ela morreu antes deu nascer (sim, não recordo o ano, mas Quino parou de escrever suas histórias antes de 79). Meu quadrinho preferido é um em que ela está colocando o agasalho do lado do globo terrestre. Passa primeiro a cabeça, depois um braço e quando está terminando o outro esbarra no globo, que cai no chão. Ela para, com a blusa ainda pela metade, olha o globo no chão e diz; - eu poderia dizer milhares de coisas sutis, mas não estou com vontade.

Tô mais ou menos assim hoje. Tenho uma dor nas costas que beira o insuportável. Uma gripe que está me rodeando...

Poderia dizer tanta coisa destes dias no Podere le Fornaci. Pastorear as cabras entre tantos campos de videira foi uma experiência única. A delícia dos queijos, as degustações e almoços que Michele prepara para os turistas que vêm conhecer a fazenda. O tanto que é perto da Macelleria Cecchini, que rola de ir almoçar despretensiosamente numa terça feira...Mais que tudo das pessoas maravilhosas que conheci aqui... Mas hoje não vai rolar. Não tô com vontade. Deixo fotos.


degustação de queijos


 sobremesa super gourmet de Michele: mel, ricota (do dia) e canela


a família cresceu, Alita é a nova moradora da fazenda. dá vontade de comer! lea, michele, francesco e eu.


a pastorinha australiana - wwoofer - com as cabras entre bosques e casas em chianti



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Nhoque com manteiga e sálvia

Pasta com manteiga e sálvia é típico na Itália. O mais tradicional é o ravióli. Funciona mais ou menos assim, onde não se faz azeite de oliva, ou seja mais ao norte, se usa mais a manteiga. Aqui na Toscana tem óleo, mas a pasta com sálvia e manteiga também faz sucesso. Esta receita é direto do Podere le Fornaci, onde estou esta semana e encontrei uma turma ótima, super animada e boa de cozinha!

Ingredientes:

1 kg de batata
300g de farinha
1 ovo
sal
sálvia
parmeggiano
manteiga



Preparo:

Cozinhar as batatas com água e um pouco de sal. Descascar e amassar sobre um pouco de farinha. Juntar o ovo, sal e misturar com as mãos até ter uma massa homogênea. Se necessário adicionar farinha, vai depender da batata, a massa deve ser macia. Cortar a massa em pedaços. Numa mesa com um pouco de farinha fazer uma cobrinha com a massa e cortar os nhoques. Em água fervente colocar os nhoques e ir retirando aqueles que sobem (se for muito é bom dar uma mexidinha para não grudar).
Ao mesmo tempo numa frigideira fritar a sálvia na manteiga.
Numa travessa ir alternando um pouco de nhoque, manteiga com sálvia e parmeggiano ralado. Um pouco de pimenta do reino vai bem também...
Servir imediatamente.

domingo, 2 de setembro de 2012

Círculos

Alice viveu mais de 3 anos em BH, trabalhava numa ONG que auxilia no processo de adoção de crianças brasileiras. Um dia resolveu ir para os Estados Unidos, buscava coisas novas, aprender melhor o inglês, foi. Voltava da ioga em NY quando o tapetinho enroscou na roda da bicicleta e o tombo foi feio. Precisava operar, impossível com a falta de política pública em saúde dos EUA, teve que voltar para a Itália (quem diria, a ioga...). Agora vive na sua cidade natal, na Emília Romana. Trouxe um parmeggiano (DOC) e um espumante tinto produzido numa pequena vinícola que tinha pertencido à sua avó. Aqueles olhos redondos e seu sorriso luminoso me pareciam conhecidos de alguma outra parte. Talvez seja só das pessoas alegres do mundo.

Aurora vive em Roma, chegou cheia de jogos desconhecidos, alternativos, que divertem e ampliam a imaginação. Garantiu a alegria da noite chuvosa. Trabalha com arteterapia, dá aula de ioga para crianças. É uma feminista nata, faz projetos sociais e tem uma outra faceta mais mística. De cromoterapia a meditação. Esteve no Brasil por 3 meses, sempre tentando mudar o mundo e conhecê-lo... é brava. Quando escuta alguém falando português, caminha atrás, sorrateiramente, sorrindo com a melodia brasileira e matando a saudade.


(Aurora estava encontrando outros amigos nessa hora, Name provavelmente está fotografando)

Lisa é artista. Tem alma de artista, leve, carinhosa, risonha. Já foi duas vezes no Brasil, adora BH, mas acha que chove demais no verão. Na casa que morou o mofo subia pelas paredes instântaneamente à chuva, pânico. Nascida e criada em Firenze, gosta do respiro de viajar e voltar. Está sempre com os braços abertos para receber os amigos e também os amigos de amigos... Conhece todas as sorveterias boas de Firenze.

A outra Aurora é como um anjo. Caminha por todos os universos, une pessoas. Se alimenta disso, dos amigos. Dos velhos àqueles de dois dias. É silenciosa, sorridente, tranquila. Mora no Brasil onde faz mil coisas, de teatro à distribuição de verduras orgânicas (adivinha com quem...). Mas precisa vir à Itália pelo menos uma vez ao ano, para se alimentar. Da família, dos amigos, do vinho orgânico que seu pai faz, das paisagens da Toscana. Não posso dizer muito, sou suspeita, é uma irmã que descobri tarde. 

Name é japonesa. Mora em NY, onde conheceu Alice. Agora faz uma viagem pela Itália. É curiosa, registra tudo com sua super máquina fotográfica. Se encanta principalmente com as comidas, cada pasta é fotografada passo a passo, é possível que tenha um blog...

Teresa é brasileira, está pela primeira vez na Itália. Aprendeu a sorrir mais, gesticular mais, abrir seu coração para uma amizade em menos de um dia. Espera em silêncio cada pessoa que encontra falar algo sobre alimentação, e funciona. Quando não funciona dá uma cutucada... Sempre pensou que falar de comida era glutão, aqui descobriu que é muito mais cultura e prazer do que pudesse imaginar. Espera todos os novos amigos no Brasil, na fazenda.

Círculos que se tocaram, mudaram um pouquinho, e depois de um final de semana foram embora sorrindo feliz.